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Escolinha de skate faz a alegria de crianças no Real Parque

Finha (no alto) e as crianças do Real Parque na pracinha onde acontecem as aulas


“Finha, você vai trocar o meu rolamento?”, “Finha, você viu o meu rockslide?”, “Finha”, “Finha”. O skatista profissional Rafael Finha, de 36 anos, perde as contas de quantas vezes seu nome ecoa na pista do Real Parque, na zona sul de São Paulo. Desde janeiro ele mantém a terceira geração da escolinha de skate no local e ensina cerca de 16 crianças, entre 8 e 13 anos, a praticar o esporte — que estreia como modalidade olímpica no Jogos de Tóquio 2020.
Cada criança, depois de três meses de frequência nas aulas, tem direito a levar o skate para casa, onde também andam. Começou a faltar, parou de ir para a escola? Nada feito, o skate volta para a ASRP (Associação de Skate do Real Parque), que administra o espaço com uma concessão cedida no início deste ano e com duração até 2020.
Finha explica.
— A ideia não é transformar [as crianças] apenas em profissionais de skate, mas elas podem ser profissionais do skate. Ou podem seguir para outras áreas, como comunicação, marketing, criação, moda. O skate é muito amplo, é uma mescla muito grande de vertentes.
Na quarta-feira da semana passada (30), o R7 acompanhou uma aula.
Guilherme Silva Soares, de 10 anos, pega embalo, sobe a rampa e coloca os eixos do skate no cano de ferro fixado no solo, mas se desequilibra. Ele repete a cena pelo menos mais seis vezes sem êxito. O skatista profissional Ricardo Dexter, de 27 anos, que visitava a pista, elogia o garoto e Finha aponta o porquê dele não estar conseguindo acertar a manobra.
Na sequência o professor chama Gabriel e pede para ele encaixar o skate de outra maneira e mudar também a postura do seu corpo.
— Lembra que o equilíbrio está nos braços.
Gabriel sobe a rampa, encaixa seu skate com perfeição no obstáculo e segue por mais de três metros deslizando. No final ele é aplaudido pelos skatistas profissionais e pelos outros garotos que estão na pista.
O menino, que vai sempre para a pista acompanhado do irmão mais velho e do mais novo, conta o que os três pretendem ser no futuro.
— A gente quer ser skatista. Os irmãos skatistas.
Este é o desejo da maioria dos meninos e meninas que frequentam a Quadrinha, ou como muitos skatistas nomeiam o lugar em homenagem ao seu maior cuidador, a Prafinha.
Finha comenta que a mãe dos três irmãos vem recebendo elogios na escola e que o desempenho deles melhorou depois das manobras de skate.
Outro menino também chamado Gabriel, o Monteiro, de 11 anos, tem pretensões mais modestas. Ele se contenta em ser apenas um skatista amador, mas é um dos que mais se destaca entre os meninos e meninas que andam ali há cerca de nove meses. Ele explica como chegou ao endereço.
— Um amigo me trouxe. Eu fiquei sentado e ele emprestou o skate para mim. Eu não sabia nem descer uma rampinha. Hoje eu sei fazer várias coisas.
E na sequência elenca as manobras que sabe fazer hoje.
— Rockslide, flip, fifty…
Finha olha para os seus alunos e se desmancha em elogios.
— Os moleques andam há oito meses e estão melhores do que muito marmanjo que anda de skate há 20 anos. É um absurdo.
Enquanto ele troca as rodinhas de um skate, pelo menos meia dúzia de crianças o cerca a espera de reparos, troca de um equipamento ou simplesmente de atenção. Entre eles está Karolayne Santos, de 13 anos.
Ela é uma das poucas meninas no lugar. Mostra desapontamento em ser minoria.
—  Algumas meninas acham que não é coisa para elas.
Mas é bem decidida ao responder sobre o skate ser um “esporte de menino”.
— Eu não acho que é uma coisa só de menino, seria uma opinião bem machista falar isso.
Ela ainda se recorda do dia em que viu a skatista profissional Leticia Bufoni andando ali na Prafinha.
— Eu olhei ela andando e fiquei pensando: “Será que ela aprendeu isso em pouco tempo ou com muitos anos de prática?”.
A pista, que fica numa área verde de onde é possível ver ao fundo a ponte Estaiada, serve de refúgio para muitos atletas. O skatista profissional Ricardo Dexter (que a reportagem encontrou por acaso no local) explica porque o espaço é tão querido.
— O mais legal de andar aqui é que é um lugar feito pelos skatistas. Essa força de vontade do Finha é muito importante para o skate, foi uma coisa que ele começou sozinho e agora tem mais gente ajudando. Mas foi um espaço que ele sempre colocou a mão na massa para fazer acontecer.

Ele elogia ainda os obstáculos, criados e pensados em sua maioria por Finha.
— Nenhum desses obstáculos tem em outro lugar de São Paulo.
E depois de aplaudir Guilherme, o menino de 10 anos que acertou um fifty no corrimão, ele enaltece o trabalho do Finha com as crianças.
— O que ele está criando é uma geração de skatistas que podiam estar fazendo um monte de porcaria na rua, se estragando, vendendo droga... E estão aqui andando de skate.
De fato, os obstáculos, em sua maioria, foram feitos por Finha e por outros skatistas com a intenção de agradar a quem está começando e também aos que há muitos anos praticam o esporte. Talvez este seja o segredo da Prafinha.
O sol se põe e os meninos e menina começam a se despedir. O ritual se repete semanalmente nas tardes de quarta-feira e nas manhãs de sábado.

Fonte: http://noticias.r7.com/

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